Por Denis W. Levati
O apressado transeunte que desembarca no metrô República e que antes de correr para o escritório compra doces na bomboniere do prédio situado na esquina da avenida Ipiranga com a Sete de Abril , pode não imaginar que ali está um dos mais importantes edifícios de São Paulo, um marco no processo de verticalização da cidade por ser considerado o primeiro prédio moderno da cidade.
Trata-se do Edifício Esther, construído da década de 1930 para ser a materialização do sonho do industrial Paulo Nogueira, que desejava um endereço nobre na capital do Estado para o escritório de sua empresa, a usina de açúcar Esther. No edital que continha as regras pelas quais os arquitetos deveriam conceber o edifício, Nogueira desejava salas comerciais de diferentes dimensões, capazes de abrigar profissionais de diferentes carreiras e salas que pudessem acomodar o escritório da usina, contabilidade, salas do superintendente, diretor, presidente e de reuniões. Havia também a necessidade de apartamentos ocupando os demais andares da edificação, que deveria possuir no máximo dez pavimentos.

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Rascunho do Esther, atribuído a Vital Brazil |
De posse destas informações os arquitetos Vital Brazil e Ademar Marinho conceberam um projeto inovador para sua época. A inspiração vinha da Bauhaus, escola alemã de artes e arquitetura que representava a vanguarda da época. O sistema construtivo adotado, o concreto armado onde as vedações de tijolos onde as paredes ‘sobem’ depois das lajes armadas, passava uma impressão de nudez à sociedade trintista.
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O hall de entrada do Esther com as engrenagens símbolo da Usina que batizou o edifício |
Duas Décadas de Glamour
Inaugurado, o Esther passou a abrigar o fino da sociedade cultural paulistana. A partir da década de 1940, artistas, pintores, boêmios, escritores e jornalistas passaram a habitar o endereço. Rino Levi, Di Cavalcanti e Assis Chateaubriand. A cobertura foi ocupada durante anos por Marcelino de Carvalho, colunista social do Estadão e que recebia no seu apartamento as celebridades da época. Neste apartamento havia um jardim de rosas que fazia sucesso nas festas e rivalizava em beleza com o jardim de inverno da cobertura vizinha. Se haviam festas na cobertura, no subsolo ficavam os clubes prives, associação de jornalistas e boites. Foi ali que Assis Chateaubriand mancomunou a criação do Museu de Arte de São Paulo.
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Avenida São Luis nos anos 1940 com o Edifício Esther ao fundo |
Durante duas décadas e meia, o Esther foi dos mais glamorosos endereços de São Paulo, até que em 1965 os escritórios da usina açucareira mudaram voltaram para o interior do Estado a fim de conter gastos, depois disso a família Nogueira deixou de fazer a manutenção do prédio até que decidiram vender todas as unidades. Foi o começo do processo de decadência.
Decadência e tombamento
Com o fim da Sociedade Predial Esther, os gastos de gestão passaram aos condôminos. Pouco habituados com manutenção das unidades nem tampouco com as áreas coletivas. O que se viu nos anos seguintes foi a descaracterização do prédio que passou a ser ocupado inclusive como cortiço. Em torno do edifício, antes todo aberto foram colocadas grades para impedir a passagem e o pernoite de moradores de rua.
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Entrada Executiva do Esther na rua Sete de Abril, nos anos 1940. |
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Entrada Executiva do Esther na rua Sete de Abril, nos dias de hoje. |
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Frente do Esther voltado para a avenida Ipiranga |
Em 1988, a Folha comemorava o decreto de tombamento do Edifício Esther. A manchete declara que o prédio, juntamente com o edifício Martinelli foram os responsáveis pelo inicio do processo de verticalização de São Paulo.
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Em 1988 a Folha destacava o tombamento do Esther |
Mas o tombamento não foi a salvação daquele que é considerado o primeiro mixed use do país. Como acontece em muitos edifícios tombados de propriedade privada, não existe política de restauro para estes casos e o resultado prático é um prédio velho e descaracterizado. Em outubro de 2011 a Veja São Paulo comparou a situação caótica do Esther com a de um vizinho que fora tombado, mas destinado ao poder público, o edifício Caetano de Campos.
Esperança
A única esperança de restauro para os edifícios históricos tombados pelo patrimônio, a exemplo do que aconteceu em outras construções, é a iniciativa privada e a boa vontade de apaixonados pela história. Olivier Anquier, chef e apresentador de TV que adora caminhar pelas ruas do Centro, escolheu morar na cobertura do Esther após reforma que manteve as características originais. Um bom exemplo de respeito a memória urbana.
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Olivier Anquier no jardim da cobertura do Esther |
Fontes:
ATIQUE, F - Memórias de um Projeto Moderno: A Idealização do Edifício Esther (2002)
SOUZA, M.A - A identidade da Metrópole: a verticalização de São Paulo (1994)
Veja SP
Folha de São Paulo
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